sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O trabalho

Tanta gente sem pão em Portugal andará à procura de trabalho. Costuma até dizer-se que o nosso bem-estar assenta neste tripé: saúde, trabalho, casa. E podemos acrescentar: que a saúde não faz falta que seja de ferro; que o trabalho não precisa da remuneração do Ronaldo; que a casa não precisa sequer de aproximar-se das mansões dos nossos “heróis” do futebol. É que aqui também no meio pode estar a virtude.
Aqui há semanas (poucas) fomos instruídos pelo pedaço de uma carta de S. Paulo aos cristãos de Tessalónica que nos pareceu um recheado estudo filosófico – teológico sobre o trabalho.
Vivendo, trabalhamos. Se deixamos de trabalhar, morremos. Trabalha o coração, trabalha o cérebro, trabalha o sistema nervoso, trabalha tudo em nós. Que maravilhoso que tudo isto é! E este ser que é trabalho por natureza, precisa ele mesmo de se pôr a trabalhar, para manter-se em trabalho, isto é, para viver. Por isso mesmo, dizemos que o homem tem o dever de trabalhar, o que S. Paulo exprimia de outra forma: “quem não trabalha não tem direito a comer”.
Então, se nos assiste o dever de trabalhar, alguém tem de criar as condições externas para que possamos trabalhar. Assim, o direito ao trabalho flui do dever do trabalho, o que acontece com todos os direitos que são filhos e consequências dos deveres. Por isso, se também defendes o direito à saúde, não esqueças do dever primeiro de velar por ela.
Paramos um pouco a pensar no trabalho, e logo nos surgem, pelo menos, quatro pontos de reflexão:
• Pelo trabalho e com o trabalho, colaboramos com Deus Criador. O mundo ficou muito por criar. É o homem que “dominando a terra”, tem dela tirado as mais inimagináveis forças. E ainda mal começamos…
• Pelo trabalho, realizamo-nos. Um homem sem possibilidade de acesso ao trabalho, quantas vezes recorre aos sucedâneos da droga, do vinho, do roubo … do suicídio!
• Pelo trabalho, integramo-nos com alegria no agregado familiar, contribuindo para que na casa se viva feliz, quente, com projecto e com sonho.
• Pelo trabalho, construímos a sociedade, somos motores do progresso, pomos a máquina social a mover-se e a produzir. E quando assim acontece, não pode haver crise.

Por D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, em Página 1, 25/11/2010

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