terça-feira, 23 de novembro de 2010

O que o Papa disse a Peter Seewald


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“Efectivamente, acontece que, onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. Tem de se fazer mais. Desenvolveu-se entretanto, precisamente no domínio secular, a chamada teoria ABC, que defende “Abstinence – Befaithful – Condom” (“Abstinência – Fidelidade – Preservativo”), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam. Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.
Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade.

Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos?

É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana”.

Um comentário:

  1. Preservativo
    Vaticano nega “reviravolta”

    O gabinete de imprensa da Santa Sé nega que o Papa tenha permitido o uso de preservativos em certas situações, conforme foi noticiado, um pouco por todo o mundo.
    O porta-voz do Vaticano, Padre Federico Lombardi, discordou que as palavras de Bento XVI, publicadas num livro de entrevistas a um jornalista alemão, constituam “uma reviravolta revolucionária”, como têm sido apresentadas.
    “O Papa toma em consideração uma situação excepcional, na qual o exercício da sexualidade representa um verdadeiro risco para a vida do outro”, disse Lombardi, sublinhando que “o Papa não justifica moralmente o exercício desordenado da sexualidade, mas defende que o uso do preservativo para diminuir o perigo de contágio é «um primeiro acto de responsabilidade», «um primeiro passo na estrada para uma sexualidade mais humana», mais do que o não fazer uso do mesmo expondo
    o outro a um risco de vida”.
    O pensamento do Papa sobre esta matéria aparece em “Luz do Mundo”, um livro-entrevista da autoria do jornalista Peter
    Seewald, que é lançado amanhã, em simultâneo.
    Em Portugal a obra aparecerá em Dezembro.
    Abordando a questão do preservativo e da
    possibilidade de poder ser usado para evitar
    a propagação da SIDA, Bento XVI diz: “Pode haver casos pontuais, justificados,como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer”.
    Bento XVI esclarece, porém, que a solução para o problema da SIDA não passa pelos preservativos: “Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade”.
    Quando este excerto apareceu numa pré-publicação do livro, no “L’Osservatore Romano”, órgão oficial do Vaticano, muitos órgãos relataram que o Papa estava a permitir o uso do preservativo no combate à SIDA.
    A moralidade, ou não, desta posição tem sido foco de grande debate, mesmo no interior da Igreja.
    No seguimento da publicação do excerto, surgiram, de imediato, campos distintos. Por um lado, vozes a saudar “a abertura” de Bento XVI, noutro vozes que defendem que não se trata de uma revolução e que as palavras do Papa estão a ser deturpadas. No meio, ficaram aqueles que defendem que o Papa não está a fazer outra coisa que não aplicar a uma situação moderna um processo teológico milenar.

    São Tomás de Aquino e lei do mal menor

    Um dos argumentos mais citados pelos defensores da continuidade é da lei do duplo efeito, da autoria de São Tomás de Aquino, conhecido também por “lei do mal menor”. Segundo São Tomás, pode haver situações em que um acto levado a cabo por uma boa razão
    tenha um efeito secundário mau inevitável, mas não pretendido.
    Aplicando ao caso do preservativo e da SIDA, um casal em que um dos membros tenha a doença poderá estar protegido por esta argumentação ao usar um preservativo para evitar o contágio. Neste caso, o mal da contracepção artificial é um efeito secundário não desejado de um bem que é o uso de um profilático para evitar o contágio de uma doença mortal.
    É a esta tese que alude o Bispo D. Carlos Azevedo, quando questionado sobre as palavras do Papa: “É uma questão moral que há muito tempo está esclarecida.
    As pessoas talvez estranhem por ser o Papa a dizê-lo, mas é a reflexão sobre o mal menor. Podemos falhar uma norma mais pequena em favor de uma causa maior”.
    Apesar de esta ser uma questão teológica consensual, a sua aplicação a estas situações específicas nunca foi confirmada pela Igreja. Contudo, a verdade é que o excerto do Papa não é claro a este respeito.

    Página 1, 22/11/2010

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