sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Preparação para as JMJ Catequese 3

3.º TEMA

JMJ e Baptismo

«O Sacramento do Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã e o pórtico da vida no Espírito. Só adquirindo uma clara consciência do que significa sermos baptizados, perceberemos todos os outros sacramentos e a nossa vida como cristãos inseridos na comunidade cristã e na acção diária no meio do mundo em que vivemos. “Edificados e enraizados em Cristo, firmes na Fé”… (Cl 2,7) Cada uma destas três acções (edificados, enraizados e firmes) iniciam-se no Baptismo e desenvolvem-se a partir do mesmo.

Convido-vos a debruçarmo-nos sobre o Baptismo como a Vida Nova que todos recebemos em Jesus Cristo. O nosso Deus chama-nos constantemente à vida, não a uma vida qualquer, mas à Vida que n’Ele tem origem: não sujeita aos limites do mundo, que nos traz felicidade; pela qual vale verdadeiramente a pena lutar e que é a vida que devemos levar aos que se cruzam connosco no dia-a-dia: a Vida que vem de Deus!

Debrucemo-nos ainda sobre o Baptismo como o Sacramento que nos confere a graça de nos sermos filhos de Deus: e filhos muito amados!»

† Manuel Neto Quintas, Bispo do Algarve

1.º Encontro

CHAMADOS À VIDA: a Vida Nova em Cristo

A água: fonte de vida

A água é algo comum e, se certo modo, “vulgar” do nosso mundo. Porém, não se pode não se pode negar a sua vital importância para que haja vida. Na água surge a primeira forma de vida. A água, quando contida em represas, é fonte de energia, de vida e de fecundidade. A água está cheia de mistério! Ora, o Baptismo é o sacramento da água: realiza-se pela imersão nas águas baptismais. Ao ser introduzido nas águas, o que é baptizado imerge em Cristo, tal como Cristo baixou ao túmulo. E, tal como o túmulo foi o sinal da morte redentora de Jesus, também o imergir nas águas é o sinal duma participação no mistério dessa morte, ou seja, do sepultar do pecado, do homem velho que Jesus destruiu. Ora, ao emergir das águas em que foi sepultado, o baptizado é o sinal visível de Cristo que venceu a morte e o pecado, ao sair do túmulo pela sua Ressurreição. E eis que aqui começa o Homem-Novo. Mas a água, por si só e como elemento natural, nada muda no interior do homem sem a essencial acção do Espírito Santo. Como Jesus o afirma no Evangelho segundo São João: «Fica sabendo que só quem nascer da água e do espírito é que pode entrar no reino de Deus. O que nasce da carne é carne e o que nasce do espírito é espírito» (Jo 3, 1-9).

Palavra de Deus

Da Carta de São Paulo aos Romanos:

«Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. De facto, se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição» (Rm 6, 4-5).

Nascidos para a Vida que não tem fim

«A fim de termos um nascimento que não seja fruto da simples natureza, mas também de uma escolha consciente, e obtermos pela água o perdão dos pecados cometidos […] é pronunciado o nome do Criador e Senhor Deus de todas as coisas [...] sobre aquele que é conduzido à água do Baptismo.» Com este belo texto de São Justino (séc. II), conseguimos entender que o Baptismo é um verdadeiro nascimento, pois nele tem lugar o início da Vida Nova dos que são purificados e regenerados pela água e pelo Espírito de Deus. E esta é uma verdadeira vida que só o Espírito Santo pode dar-nos. O Baptismo é verdadeiramente um novo nascimento em e para Deus, o início da Vida Eterna, para a qual fomos criados por Deus. «O Baptismo, de facto, regenera-nos para a vida de filhos de Deus, une-nos a Jesus Cristo e unge-nos no Espírito Santo» (RM 47). Mas aqueles que nascem pelo Espírito não devem nem podem jamais ficar retidos neste momento duma vida projectada por Deus a desenvolver-se e crescer cada vez mais em nós. É que, tal como ninguém nasce para ficar no estado de recém-nascido ou bebé que gatinha, do mesmo modo aqueles que nascem pela água e pelo Espírito são chamados a esforçar-se por crescer e desenvolver a graça que Deus semeou em seus corações. Deste modo, o Baptismo tende para a plenitude, para a Vida Nova que não tem fim e que vai tornando-se cada vez mais perceptível se não impedirmos que Deus haja em nós. A Vida Nova de Deus em nós é uma realidade não estática ou já plenamente adquirida, mas antes em permanente crescimento quotidiano (consoante a nossa abertura a Deus e a nossa opção radical por Cristo) que atinge o seu termo na união eterna com Deus, na Vida Nova em Cristo, a qual não tem fim.

Expressão de Fé

Enraizados e enxertados em Cristo, tornamo-nos outros Cristos

[Partimos do exemplo de enxertar uma árvore de fruto: figueira - o ramo de figueira que tem qualidade pode não desenvolver-se na figueira original por falta de força desta. O mesmo ramo, ao ser cortado e enxertado numa outra figueira com vigor e vida em abundância, começa a produzir abundantemente; este momento deve ser acompanhado com imagens]

A partir do Baptismo tomamos parte no mistério da vida de Jesus – devemos agir ao Seu modo. O Espírito Santo realiza em nós uma misteriosa mudança e purificação que nos liberta do «poder das trevas» e nos configura com Cristo. O Baptismo dá-nos o perdão pela purificação que Deus realiza em nós. E assim começa a nossa «incorporação» em Cristo, ou seja, somos enxertados e enraizados em Cristo. Mas esta nossa enxertia em Cristo nunca estará completa neste mundo, embora seja capaz de crescimento e aprofundamento. O Baptismo é a raiz donde se desenvolve todo este processo de crescimento da vida cristã. Saídos da água, os baptizados estão em condições de iniciar o seguimento e aprendizagem de uma vida em Cristo e daí se exija que sejam iniciados nos mistérios da fé, a fim de se deixarem moldar pela acção do Espírito e se tornarem «HOMENS NOVOS».

Jesus, numa das suas belas parábolas, dá-nos uma imagem clara deste acontecimento: «Eu sou a videira e vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim e Eu nele, esse produz muito fruto» (Jo 15, 5). Esta comparação da videira faz-nos lembrar que a mesma, ao ser enxertada, é um verdadeiro símbolo deste «permanecer n’Ele e Ele em nós». E essa «enxertia» acontece no Baptismo. Aí, ao mergulharmos na água, o Espírito Santo faz-nos aderir à Pessoa de Cristo, enxertando-nos no mistério da sua morte e ressurreição (Rm 6, 4-14). Desde esse momento, circula em nós a própria vida divina e começamos a ser verdadeiros filhos no Filho. Enxertados na natureza humana de Cristo, somos verdadeiros filhos de Deus. Unidos a Ele na fé, pela acção do Espírito no qual fomos baptizados, enraizamo-nos na sua Pessoa. Nesse sentido, pode dizer-se que o Baptismo é o ponto de partida para uma vida divina, enraizada em Cristo, mas em permanente crescimento.

Dinâmica de Expressão de Fé:

Em grupo ou pequenos grupos são chamados a reflectir (para depois partilhar em plenário), como tem acontecido nas suas vidas concretas este estar enxertados e enraizados, respondendo a algumas questões tais como:

a) Eu já optei mesmo por Cristo ou tenho “vindo na onda” por outras razões?

b) Que há a podar (mudar) na minha vida e que me afasta de Cristo?

c) Que aspecto tenho que reforçar e apostar neles nesta opção por Cristo?

d) O que me diferencia dos que não seguem Cristo? Ou sou igual?

Depois do plenário de partilha, entrega-se a cada jovem um pequeno ramo com um papel A5 inter-ligado, no qual deve ser colada a foto, escrito o nome e no verso o jovem é chamado a escrever a sua oração que reflicta o trabalho anterior. Entretanto, coloca-se um tronco de árvore no centro da sala e cada jovem é chamado a enxertar o seu ramo no tronco que simboliza Cristo.

2.º Encontro

O BAPTISMO: SACRAMENTO DA FILIAÇÃO DIVINA

Dinâmica inicial:

A cada jovem é entregue uma vela flutuante que deve ser acesa num círio adornado onde se escreve Jesus Cristo. Existirá um recipiente com água (simbolizando a água baptismal). Após acenderem as velas (símbolo da fé), colocam nas no recipiente com água (enquanto se canta Caminha na Luz). Partindo deste gesto e da abordagem em jeito de diálogo do que se diz sobre a Fé (“eu cá tenho a minha fé…”; as “fezadas” que se têm em ídolos passageiros; a fé à maneira de cada um; “sou cristão não praticante”; entre outros), entra-se na Palavra de Deus.

Palavra de Deus

Evangelho segundo São Marcos:

«Depois disto, Jesus disse-lhes: “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado”» (Mc 16,15-16).

O Baptismo: sacramento da fé

Não podemos falar de Baptismo sem ter presente a Fé; esta não é secundária nem descartável. Aliás, no caso do Baptismo, a Fé é a essência do próprio sacramento, porque este sacramento é verdadeiramente o sacramento/o sinal visível da fé cristã. Da boca de Jesus ouvimos que «quem acreditar e for baptizado será salvo» (Mc 16,16). O Baptismo é o sacramento da fé em Cristo, e, por isso, a celebração sacramental, através de palavras e acções, põe em relevo a vida nova do baptizado e a salvação que ele espera e proclama como inaugurada por Deus, na ressurreição de Jesus. Desde o início que a Igreja entende assim este sacramento. Quando os Apóstolos começaram a fazer o anúncio da Ressurreição de Jesus, em dia de Pentecostes, convidaram os ouvintes a aderir, por meio do rito baptismal, ao Senhor Jesus, reconhecido como Salvador da humanidade (cf. Act 2,38). O Baptismo é o sacramento dessa salvação, ou seja, dessa passagem da morte para a vida pela fé em Cristo. É, de resto, essa realidade que a Igreja pretende exprimir, pelo gesto da imersão/emersão: O Baptismo não pode nem deve ser entendido como um acto mágico ou de efeito mecânico e repentino. Ele é a realização do mistério que a própria Palavra de Deus, proclamada e assumida, exprime, antes da celebração sacramental propriamente dita. Essa celebração da Palavra de Deus, destinada aos baptizandos quando adultos ou aos responsáveis pela educação cristã dos baptizandos, no caso das crianças, além de dar o sentido da fé que o sacramento celebra, acentua uma especial relação com o mistério da morte e ressurreição de Jesus. E este mistério - o mistério pascal - é o núcleo e o cerne da fé cristã.

Se a celebração da Palavra acentua este aspecto, ele volta a vir ao de cima, no rito sacramental, quando se faz a profissão de fé que antecede o Baptismo, e ainda no acto de baptizar, sobretudo quando é feito por imersão. Através desse gesto, torna-se claro como o cristão entra com Cristo «no sepulcro» (simbolizado na água em que é mergulhado), para dela sair vitorioso com Ele, numa participação de vida nova, com a missão de anunciar a alegria da Ressurreição a toda a humanidade. Em ambientes pouco atentos ao verdadeiro significado do Baptismo, ou onde a prática de vida cristã é reduzida, só uma intensa e prolongada preparação poderá ajudar a descobrir o verdadeiro significado da «regeneração baptismal», como um compromisso de fé e de vida, como graça transformadora de Deus em nós, como «novidade» da existência e da pertença a uma comunidade ec1esial.

Expressão de Fé

No Baptismo tornamo-nos filhos muito amados

Deus criou-nos à sua imagem e semelhança, a fim de nos tornarmos seus filhos muito amados. Deus quer que todos os homens vivam como filhos, nesta vida, e possam participar plenamente da vida do próprio Deus, para lá da existência no tempo. No contexto da vida sobre a terra, porém, nem todos tomam consciência da transcendência do seu próprio ser, e, consequentemente, não se abrem ao projecto eterno de Deus concretizado em Cristo. É em Cristo, Deus feito homem, acessível à nossa natureza, que Deus nos interpela de modo palpável. Este é o desígnio eterno de Deus, pelo qual Ele quer salvar todos os homens como verdadeiros filhos seus. Por isso, só em Cristo terão salvação todos os homens que Deus criou. Importa que cada um se una a Cristo para se tornar verdadeiro filho de Deus. E essa união começa no Baptismo. Para Deus, no entanto, não há filhos de primeira e de segunda. Deus quer que todos se salvem como verdadeiros filhos em Cristo. O Baptismo é sempre, por desígnio do próprio Deus, o meio mais acessível para realizar nos homens a enxertia no divino. O Baptismo, de facto, regenera-nos para a vida de filhos de Deus. Assim como a geração é o começo da vida de cada homem, assim a regeneração pelo Espírito é o começo da filiação divina. Mas o começo é sempre e apenas o começo: e há muito mais para além do começo. A filiação divina é uma realidade em crescimento quotidiano que atinge o seu termo na comunhão eterna com Deus. Foi para sermos seus filhos muito amados que Deus nos gerou, em Cristo, pelo Baptismo. É nesta vida terrena e passageira que, uma vez enraizados enxertados em Cristo através do Baptismo celebrado e vivido em consciência, temos que permanecer firmes na fé, a qual deve ser cuidada e alimentada permanentemente para vivermos como verdadeiros filhos deste Pai que tanto nos ama.

Dinâmica de Expressão de Fé:

Cada um deverá redigir o “seu” Pai-Nosso (com a sua linguagem e ao seu estilo, sem copiar o que Jesus nos ensinou). Depois da redacção, este será rezado por cada um como oração final do encontro, sendo coroado com o Pai-Nosso de Jesus.

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