sábado, 20 de abril de 2013

O caso Gosnell




Luís Cabral

Professor da Universidade de Nova Iorque


O caso Gosnell


O julgamento do médico abortista Kermit Gosnell tem recebido uma cobertura nos media americanos muito menor do que a sua importância justifica. Em Portugal, com excepção do Página1, não creio que o acontecimento tenho sido sequer mencionado. O silêncio não é totalmente surpreendente, tendo em conta o incómodo que cria para os defensores do princípio absoluto da liberdade da mulher e da “privacidade” da relação entre médico e “paciente”.
Dos oito casos de homicídio de que Gosnell é acusado, um refere-se a uma mulher que morreu durante um aborto. Os restantes sete correspondem a bebés que sobreviveram às tentativas de aborto e foram posteriormente “terminados” através do corte da coluna efectuado com uma tesoura sobre a mesa de operações. Embora estejam em causa estas sete instâncias concretas, estima-se que o número destes abortos (que realmente são infanticídios) tenha sido muito maior.
O caso Gosnell é um caso extremo no sentido em que esta era a prática “normal” deste médico para tratar de abortos tardios. No entanto, os casos de “aborto de nascimento parcial” aconteceram e continuam acontecendo noutras clínicas.
Nos Estados Unidos, a prática é ilegal, o que leva alguns defensores da liberdade do aborto a sugerir que há aqui uma incoerência básica: desmembrar um bebé e depois retirá-lo do ventre é legal, enquanto que retirar um bebé do ventre para depois o desmembrar é ilegal.
É positivo que estejamos de acordo em que há aqui uma inconsistência básica. Talvez assim cheguemos também juntos à conclusão de que o aborto e o infanticídio, diferentes nas circunstâncias em que se verificam, levam essencialmente ao mesmo resultado: a morte de uma vida inocente.


in página1 19.04.13

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